7 de dez. de 2014

Sobre cotovias e lobos


         Todas as manhãs de domingo, quando eu me levantava, ele estava lá, sentado na grande sala de estar da casa de minha infância com um livro nas mãos, às vezes um jornal ou uma enciclopédia. Meu pai. Filho de imigrantes italianos que vieram ao Brasil fugidos da tragédia da guerra, um mecânico de máquinas agrícolas, tinha grandes mãos que cheiravam a graxa, pouca escolaridade, mas lia Vitor Hugo. Meu avô Isidoro, homem simples e austero,  trouxe na bagagem a esperança de construir uma vida de paz e um amor pelas notícias, era comum vê-lo voltar da rua, aos sábados, com um jornal debaixo do braço que ele lia ávida e silenciosamente.  E assim minha infância se fez, numa casa antiga, cheia de tios e tias falantes, crianças barulhentas e entre dois homens que gostavam de ler.

  Aos cinco anos minha vida era povoada de histórias que meu pai Mário nos contava à noite. Elas falavam de reinos distantes, terras longínquas numa Europa desconhecida, de povoados cobertos de neve com lobos que uivavam à noite e cotovias que cantavam ao amanhecer. Outros mundos, outros povos, entravam pela janela nas noites frias de inverno e enchiam nossa casa de vida, enquanto nos enrolávamos nas mantas em nossas camas. Entre jornais, livros e histórias, a minha alfabetização se deu rapidamente e ao entrar na escola eu já conhecia as letras. Então vieram as revistas em quadrinhos que chamávamos de gibis, me pai as comprava regularmente para mim e minhas irmãs e o meu mundo se encheu da alegria e ingenuidade do Cebolinha e da Mônica e da magia de Walt Disney: Tio Patinhas, Donald, Margarida  e Mickey eram meus companheiros inseparáveis. Eles estimulavam a minha imaginação e me despertavam para outras leituras que viriam a seguir. Aos nove anos comecei a frequentar a biblioteca da cidade e conheci o mago Monteiro Lobato que me pegou pela mão, me levou ao sítio encantado de dona Benta,  me apresentou Emília, Pedrinho e Narizinho. Minha casa não tinha luxo, mas era povoada de sonhos que a leitura me trazia e era comum eu passar horas escondida debaixo de um pé de limão, no fundo do quintal, perdida no reino das águas claras...
     À medida que fui amadurecendo, a escola também foi fazendo o seu papel, me apresentou outros autores, veio a série Vagalume com suas aventuras saborosas e a sensibilidade explícita de José Mauro de Vasconcelos...
     O tempo passou, outras leituras foram acrescentadas a minha vida, leio  livros, jornais, revistas, leio o mundo. Hoje minha casa é cheia de livros de todos os tipos que se espalham por todos os cômodos e que a empregada vive teimando em acomodar. Literatura que vai do Brasil à Rússia, de contos a romances e crônicas, e jornais, e gibis... Sim, devo admitir que ainda tenho um prazer dolorido de entrar numa banca de jornal, pegar um Pato Donald nas mãos, levá-lo ao nariz e sentir o antigo  cheiro  de tinta que orvalhou minha infância. E que mesmo tendo partido há tantos anos, meu avô ainda me acena com seu jornal enquanto desce a rua ensolarada nas manhãs de sábado. E nas noites de inverno, ainda ouço a voz de meu pai sussurrando suas histórias fantásticas sobre lobos e cotovias, enquanto o vento canta lá fora...



30 de mar. de 2014

Outonando

Batidas delicadas na janela
Suave sussurro do vento 
Ao abrir, encontrei o Outono...

10 de mai. de 2013

Férias no Marrocos

     Estávamos na Espanha em férias. É verdade que o plano original era dar uma esticadinha até Andorra na divisa com a França, mas era janeiro, fazia um frio glacial em Madri e resolvemos alterar nossa rota para um lugar mais ameno. De Madri descemos de carro cerca de 400 km até Granada onde passamos dias maravilhosos. De lá fomos costeando o Mediterrâneo por Málaga, Nerja até chegarmos a Algeciras. E aí começa mesmo nossa aventura.


Ferry no Mediterrâneo
    Após uma noite bem dormida, levantamos muito cedo e nos dirigimos ao porto.Uma aurora rosada nos aguardava, o sol se levantando calmamente a leste, dissipando lentamente a bruma da madrugada que insistia em se estender sobre os navios. A manhã chegava esplêndida, clara e fria, e o porto se revelava em toda sua extensão diante de nós.
O barco, na verdade um ferry enorme, fez   uma viagem tranquila, cerca de 2 horas singrando um mar                                          


Descansando no Marrocos
profundamente azul, gaivotas brancas voando alto e no horizonte, aproximando-se lentamente, uma massa marrom que nos indicava a proximidade do continente africano. Ceuta se alargou a nossa frente e rapidamente o barco atracou no porto. Um alívio, porque o meu pobre estômago já reclamava do balanço das ondas. Desembarcamos em Ceuta com  Alexandre reclamando que preferia ficar ali mesmo, que era um excelente lugar para comprar eletrônicos, mas que fazer, foi voto vencido e lá fomos nós, de bilhete na mão a procura de nosso grupo turístico. Sim, porque não seríamos loucos de nos aventurar pelo Marrocos sem um guia local. Do lado de fora do porto, outros turistas se juntaram a nós, um exótico grupo multirracial: italianos, japoneses, ingleses, americanos, franceses, chineses, numa autêntica babel linguística. O guia, marroquino desfigurado pela cultura europeia, era um tipo moreno, graúdo, falava alto e fumava muito. Já de início, houve um estupendo bate-boca entre ele e um grupo de falantes italianos, que reclamaram do atraso do ônibus que nos conduziria. Gritaria de ambas as partes, olhares curiosos dos demais e eis que, para salvação da pátria brasileira ali representava por nós quatro, avançou lindamente pela rua ensolarada, o ônibus guiado pelo seu motorista marroquino. Acomodados todos, seguimos para a fronteira marroquina. Foi um espetáculo dantesco, um verdadeiro portal do inferno. O guia moreno recolheu todos os nossos passaportes e desceu com a pilha colorida diante dos nossos olhos esbugalhados. Pela janela avistava-se um enorme amontoado de carros, de todas as cores e modelos. E velhos! Muito velhos! Muito estropiados pelo tempo, como se um enorme ferro velho houvesse ganhado vida e saído para dar um passeio.
      Passar a fronteira foi um alívio, pois já estávamos pensando onde estaria nosso guia portando nossos documentos. Seguimos pela estrada, olhos abertos vasculhando a paisagem que se desenhava pela vidraça. O Marrocos se apresentava para nós em todo seu exotismo. Estaríamos nós prontos para ele? ( continua ...)

 


 
Estrada no Marrocos



17 de abr. de 2013

Haicai 俳句

Contei-lhe sobre madrugadas frias orvalhadas de prata
E  cavalos selvagens ao luar
"Insana"-suspirou- e foi-se nas asas do vento...

15 de abr. de 2013

"Tenta te orientar pelo calendário das flores,
 esquece, por um momento os números,
a semana, o dia do teu nascimento. 

Se conseguires ser leve, aproveita, enche tuas malas de sonho 
e toma carona no vento."
( Fernando Campanella ) -)

2 de nov. de 2012

Haicai 俳句

Flores nas mãos,
busquei meus queridos.
Só encontrei a Saudade...

5 de set. de 2012

Primavera

Hoje um sabiá cantou longamente no meu jardim. 
Pressente que há mãos divinas que se preparam para acordar a primavera delicadamente adormecida...
Já sente o cheiro de seu pólen vindo distante no ar...



11 de dez. de 2011

Manhã de domingo



Abrir os olhos, espreguiçar na cama.Sensação de leveza.Na janela,  uma luz suave. Um bem-te-vi grita estridente no jardim. Bandos de pardais assanhados festejam a manhã cintilante. A rua sem movimento, só o barulho da brisa nas plantas.Uma preguiça boa, uma serenidade absoluta me invade.
De repente, vindo de longe, se espalha no ar  um som de sinos, o padre chamando para a missa das nove na matriz.




Levanto. O gato Nino me encara do tapete com seu olhar de esmeralda.Abro a janela e a brisa branca da manhã azul invade o quarto,  balançando a cortina, levantando nos ares o tecido transparente.Um raio de sol brinca na parede, acaricia as flores da  jardineira na janela  e vem se deitar travesso sobre a cama.


As margaridas do jardim me sorriem. O bem-te-vi me sorri do galho mais alto da roseira vermelha, aos gritos assanhados na manhã sedosa.

O gato Nino se revira no tapete, estica os braços, as pernas, num movimento suave está de pé, cheira o ar com seu nariz de veludo negro.Parece farejar extasiado o perfume de todas as auroras. Vem juntar-se a mim na janela, deixando-se banhar pela luz. O bem-te-vi insiste no seu canto agudo, chama sua companheira que responde ao longe. Num salto gracioso, um bailarino espanhol negro e aveludado, Nino salta para o jardim e num segundo já esta perseguindo uma joaninha que voa assustada pelo ar cristalino, depois da chuva de tantos dias.


Meu olhar se demora preguiçoso no céu azul lavado, dourado pelo sol desta manhã eterna. Uma alegria serena me invade,  feliz de estar viva neste momento. Minha alma sorri para o Criador. 


Me jogo de volta no edredom, uma vontade de ficar ali, preguiçosamente desfrutando da música dos sinos, da brisa fresca, do cheiro das flores, do grito do bem-te-vi que, a esta altura, já se distanciou.
Ouço vozes que falam suaves na cozinha. De repente um cheiro bom de café inunda a casa e apesar da porta fechada,  chega até o quarto, cheiro de infância, cheiro de família, de vida. Minha alma canta. Posso ver a mesa  posta, a toalha quadriculada de azul e branco, o pão recém assado vindo da padaria da rua de baixo, o leite nas xícaras, as frutas cuidadosamente arrumadas na cestinha de vime. Sorrio para mim mesma. Minha alma é aquele canteiro de margaridas brancas do jardim, nesta primavera risonha. É  isto a felicidade?  Manhã de domingo...

29 de ago. de 2011

Os ipês florescem em agosto


Quem mora no interior de São Paulo sabe: agosto é mês de muito, muito vento e tempo seco. A irmã chuva, companheira de longos meses, anda ausente, semeando outras terras. Enquanto isso, nosso irmão vento varre  varandas e calçadas, balança as roupas no varal, enche as ruas de folhas secas. O céu, de um azul fundo, parece dizer: paciência, paciência, a primavera, em sua sabedoria, trará de volta a chuva tão aguardada. E o vento traz com ele, os papagaios coloridos dos meninos,  que enchem o entardecer, disputando o espaço com os poucos passarinhos que ficaram para passar o inverno.Coloridos, bailam elegantes no azul arroxeado das tardes, pedacinhos travessos de uma infância risonha, numa paleta de sedas flutuantes, guerreando pacíficas no céu...Quem é que se lembra de conflitos na Líbia, ou se preocupa se o etanol subiu de novo, diante de um  céu assim salpicado de alegria? Que importância tem os índices de inflação ou a crise financeira americana quando há papagaios para ser empinados?
Agosto também nos traz os ipês em flor. Amarelos, rosas, brancos, roxos, disputam com os papagaios do céu o privilegio de iluminar a tristeza do final do inverno, prenunciando uma primavera adormecida prestes a ser despertada. As calçadas se vestem do dourado de suas pétalas e as praças do branco fugaz de suas copas.Uma florada de ipês dura quatro, cinco dias no máximo, numa rapidez estonteante de cores, que  os mais apressados deixam de perceber. Parece-me que para alguns, as paisagens são apenas um pano de fundo para a correira insana da vida...Mas os ipês, alheios ao desespero humano, continuam seu ciclo eterno, enfeitados pelas mãos sábias do Criador. De repente é assim, a árvore totalmente seca, de galhos magros como os meninos dos papagaios mirando o céu, se enche de uma vida exuberante,  uma chuva de ouro e prata salpicando as calçadas e praças.

Vejo os papagaios no ceu, livres e leves e as flores nos ipês, etéreas e passageiras, desprendendo-se dos galhos e cobrindo as ruas... ambos- papagaios e flores- se deixam levar pelo ciclo da vida, carregados pelo vento de agosto. Olho para eles e me dou conta da lição intuída: é preciso saborear o vento, deixar -se por ele levar, soltos no ar como os papagaios coloridos dos meninos da minha terra, sem peso, sem bagagem, porque a vida é como as flores dos ipês de agosto: delicada, preciosa e fugaz...



24 de jul. de 2011

Cazuza, Amy Winehouse e Jesus

Seus heróis morreram de overdose?
O meu morreu na cruz...

16 de jun. de 2011

Diário de bordo: Carolina do Sul



Bob à porta de casa


É impressionante o que a gente consegue fazer pelos amigos....já passei fome, frio, paguei mico, mas a experiência com a Luciana foi mesmo de amargar, para ser bem literal. A Luciana, junto com outros três companheiros, formaram o meu grupo de intercâmbio nos Estados Unidos, um time, digamos, de sucesso, muito unido e amigo. Um dos termos do nosso compromisso com o Rotary Internacional fazia menção ao fato de não podermos ter nenhum envolvimento amoroso durante o período  em que estivessemos sob sua custódia. Mais ou menos o seguinte: estávamos lá para aprender e não para namorar. O problema é que a queridíssima Lu se apaixonou pelo simpaticíssimo Marvin, presidente do Rotary de Spartanburg...quem é que manda no coração? A Luciana não conseguiu. Por aqueles dias, morávamos as duas na casa de um adorável casal da terceira idade, Bob e Babe, que nos tinham como filhas ( "nossas filhas brasileiras", eles costumavam nos apresentar aos amigos).Ele, grandalhão, havia servido como piloto da força aérea americana na segunda guerra. Ela, pequenina, parecia uma dessas avozinhas que a gente tem vontade de abraçar e beijar. Eles eram muito queridos, davam-nos a maior atenção, eram cheios de cuidados como se fossemos duas adolescentes. Mas havia a questão Marvin-Luciana. Ela queria sair com ele, era de se esperar, estavam se paquerando, e tinha que ser bem escondido, afinal havia o compromisso com o Rotary... O problema é que as noites da primavera  americanas são lindas, perfeitas para o romance e Marvin convidou Luciana para um cineminha...Sair como? Como sair? Ora, ora, eu disse, diga que vai ao cinema com amigos, Bob e Babe não precisam saber que é com Marvin... simples, não é? Simplicíssimo se na hora de sair,  mamãe Babe não me fizesse a pergunta crucial: "why don't you go,dear? "Por que você não vai, querida???? Resposta na ponta da língua: "não, não, estou com uma dooooor de cabeeeeça!!!" Oh, my god! Começou um verdadeiro tornado dentro de casa. A velhinha saiu gritando o marido que a pobrezinha da Edninha estava doente, abriu um monte de armários a procura de remédio para dor de cabeça ( " não será gripe, honey, o pólen dessas árvores pode afetar o pulmão!"), colocou o pobre do Bob louco, pois não havia medicamento adequado em casa e fez com que ele saísse pela noite a procura de uma farmácia. Não houve meio de convencê-la de que eu estava apenas cansada, havia passado  o dia inteiro na escola estagiando, a semana fora de muito trabalho, uma boa noite de sono seria suficiente...nada a convenceu e lá se foi o pobre Bob comprar medicamento. Quando ele voltou, fui obrigada a engolir dois comprimidos de sei lá o que (não quis nem saber o que era) e ir para cama às nove da noite! Luciana, eu pensei, você fica me devendo esta. O que a gente não faz pelos amigos... Se valeu a pena? Veja a foto aí embaixo, cerca de um ano depois...sempre vale a pena, se a alma não é pequena, já dizia o poeta...

Advinha quem foi a madrinha?

 Bob e Babe


 

Foto oficial na manhã do casamento


25 de mai. de 2011

Gibraltar: para sempre na memória- Parte II

Vamos então terminar a história da minha visita a Gibraltar (Parte I em 22/04/11).
O rochedo de Gibraltar

No alto do Rochedo a vista era de tirar o fôlego!O ar era  translúcido, a respiração ficava leve e o sol do inverno europeu era suave, afagando a pele.Quem de nós podia imaginar que lá do alto a visão pudesse ser tão deslumbrante? Gibraltar, que para mim era uma incógnita, se revelava uma jóia rara, uma surpresa inesquecível . Meu coração transbordava de tanta alegria. A manhã parecia perfeita quando de repente...bateu uma fome... uma vontade de comer um chocolate... e com certeza, eu tinha uma barrinha na bolsa! A ideia parecia simples e lógica, o que mais uma chocólatra como eu poderia querer além de saborear um chocolatinho suiço, sentada ao sol de frente ao Mediterrâneo azul? Sentei-me numa mureta, abri a bolsa, peguei o chocolate, já disposta a dividi-lo com o Roger que estava ao meu lado, e rasguei a embalagem... creeeeck... numa fração de segundo, uma percepção, uma intuição. Eu olhei de lado e com o canto dos olhos eu vi! Lá vinha ele, em disparada, na minha direção, pronto para me assaltar, o meliante, com cara de más intenções, sabe-se lá disposto a que! Um macaco dourado, peludo, enorme, corria para mim. Num ato de puro instinto, joguei o meu suculento chocolate longe, num grito estridente. O macacão, já quase em cima da gente, girou nos calcanhares e numa agilidade incrível, roubou  a encomenda e desapareceu!!! Meu coração batia na garganta, de susto e de raiva do atrevimento do bicho, enquanto o Rogério desandava numa crise de riso, se dobrando de gargalhar...O susto foi tanto que eu também desandei a rir, num riso meio histérico. E o macaco?O macaco se fartou com o chocolate e reapareceu poucos minutos depois, com a cara mais limpa do mundo, como se nada tivesse acontecido...Até encontrar a próxima vítima....

O meliante com sua carinha de santo.

No final fizemos as pazes, afinal quem poderia se indispor num dia tão especial? E na saída, ainda por cima, a placa de aviso: Proibido alimentar os macacos. Multa: 500 euros...


Aqui, pazes feitas, ambos deslumbrados com o  Mediterrâneo azul..



1 de mai. de 2011

Estação

Folhas ao chão amarelando as calçadas
flutuante despedida em pingos multicores
Festa do vento nas árvores
cirandando os cabelos das meninas

Sol empalidecido na manhã brumosa
Roupas balançando no varal
Soprando do céu uma brisa sedosa
Cortinas da janela dançando
na poesia da manhã fria


 Andorinhas nos fios são pautas musicais
Cheiro de chuva no ar
Sinos da igreja na tarde
Preces da alma no vento
Cores de pouca cor
tingindo o crepúsculo mansamente
Nuvens roxas deslizando solenes
e a noite que adormece docemente

                  

folhas secas farfalhando

                               folhas secas flutuando

                                                                              folhas secas cochichando:

                                                     

                                                       
                                                Chegou o outono...
                                                 
                             paleta de cores nas mãos de Deus!

17 anos sem Senna!

Hoje faz 17 anos que Ayrton Senna se foi! 1º de Maio de 1994, um domingo como hoje!Uma curva fechada, um muro no local errado, uma barra de direção travada e adeus a um homem e esportista inimitável! O esporte perdeu, o Brasil perdeu, o mundo perdeu, todos perderam...Só não perdeu o coração dos que o admiraram e amaram como ser humano, porque para nós, ele será sempre ETERNO!

24 de abr. de 2011

Para refletir em tempos de escuridão...

"Não existe doutrina no Cristianismo que eu mais adoraria ver extinta do que a detestável doutrina do inferno. Porém, ela tem o pleno apoio das Escrituras e, especialmente, das palavras do Nosso Senhor. Ela sempre foi sustentada pela cristandade e está fundada na razão.
No fim das coisas, só existem dois tipos de pessoas: as que dizem a Deus: “Seja feita a tua vontade”, e aquelas a quem Deus diz: “A ‘sua’ vontade seja feita”. Todos os que estão no inferno, escolheram estar. Sem essa possibilidade de escolha, não poderia haver inferno".

                                                                                                                             C. S. Lewis

(Foi um dos gigantes intelectuais do século 20 e talvez o mais influente escritor cristão de sua época)

22 de abr. de 2011

Para sempre na memória: Gibraltar



Pista do aeroporto de Gibraltar

Gibraltar! Apareceu à minha frente com seu rochedo histórico, como que saltando de um livro de colégio, daquelas manhãs azuis da minha infância na escola.O que era aquilo? Uma península com um rochedo branco encarando o Mar Mediterrâneo?  Do hotel em Algeciras, o rochedo de quase 400 metros de altura  nos olhava de frente,  iluminado pelas luzes noturnas, convidando...Era uma manhã de domingo, estávamos no sul da Espanha, um carro na mão e tempo disponível. O que eu sabia da região era o pouco que a escola me ensinara, o Estreito de Gibraltar, trecho de mar que separa o Norte da África do Sul da Espanha, o oceano Atlântico a oeste e o Mar Mediterrâneo a leste...saímos bem cedo, que o dia, apesar do inverno, era ameno, um céu limpidamente azul, tornando as águas do Mediterrâneo ainda mais azuis. Passamos pela fronteira e de repente  primeira surpresa: o aeroporto! Sua  pista avança quase um quilômetro sobre o mar, e corta a principal avenida da cidade. Um semáforo controla o trânsito, alternando aviões e carros em uma paisagem única no mundo. A medida que adentravámos a cidade, parecia termos chegado à Inglaterra: carros com direção à direita, mão de trânsito à esquerda, arquitetura britânica, libra esterlina a moeda. A Espanha ficara para além da alfândega. Gibraltar é um espanto! O Rochedo domina boa parte da paisagem, há túneis escavados ao longo dos séculos, por onde fugiam pessoas, durante as guerras da região.
High Street- tentação de comprar...
Deixamos o carro e  chegamos a pé até Casemate Square, como que uma praça central, onde se encontram os bares e restaurantes locais. Bem próximo, subindo à direita, encontramos a High Street, lotada de lojas maravilhosas, onde pode-se comprar sem taxas de impostos, lugar extremamente agradável para sentar um pouco e ver os transeuntes passar...
Mas nada se compara a pegar o teleférico e subir até o topo do Rochedo. A subida leva alguns minutos, e quando chegamos, a paisagem que vislumbramos do alto, ao descer do bondinho, foi de tirar o fôlego. Encostei-me à mureta de proteção e fiquei assim, estática, contemplando meio que  que encantada, como se fosse uma daqueles sonhos ensolarados que a gente tem de vez em quando: A baía de Gibraltar, recortada pelo  azul do mar Mediterrâneo e suas dezenas de navios e barcos ancorados ao longo da costa, o céu cortado por pássaros locais,  a vista, na distância, da Costa da Àfrica, o ar límpido e cristalino do inverno europeu,o sol macio massageando a pele,  e longe, muito longe, num encontro de céu e mar, o horizonte infinito... Gibraltar, pequena e fascinante, para sempre na minha memória! ( continua...)

A belíssima costa de Gibraltar

20 de fev. de 2011

Ronaldo, o fenômeno e a vaga no hotel


Brasil, campeão do mundo 2002
 Ronaldo se aposentou, deixou o futebol e literalmente pendurou as chuteiras...triste dia este para os amantes do futebol, porque o Fenômeno é um mito.Tenho uma historinha sobre ele que bem descreve a força de sua pessoa. Tínhamos duas semanas de folga na escola em Londres e decidimos que o melhor meio de usufruí-las era longe do mal humorado clima inglês. Optamos pela velha e ensolarada Itália. Depois de percorrermos mais de 3.000 quilômetros de trem pelas belíssimas paisagens italianas,de cidade em cidade, passando pelas regiões da  Lombardia, Toscana, Úmbria e do Vêneto, chegamos a Milão numa tarde de sábado. Não tínhamos reserva em nenhum hotel, mas era baixa temporada, pleno setembro, quem poderia imaginar que não encontraríamos uma vaga sequer? Simples demais, no dia seguinte haveria um clássico italiano na cidade: Inter X Milan, o que poderia ser pior? Cidade abarrotada de torcedores, gente por todo lado... Eu já começava a ficar assustada com a possibilidade de dormir na estação de trem, quando nos deram uma dica: tentar uma vaga numa hospedaria enorme, próxima ao estádio San Siro. Claro, melhor dormir numa Hostel do que na estação entre as malas. Lá fomos nós, morrendo de fome, cansados, o motorista do táxi falando mais o que o homem da cobra, discorrendo sobre o jogo do dia seguinte, entusiasmadíssimo. Quando chegamos à hospedaria, sentimos o clima, pessoas de todas as idades, de crianças a idosos, Hostel lotada. E a famigerada  placa logo na entrada indicava claramente: vagas esgotadas. Fui para o balcão já imaginando a resposta grosseira do rapaz, passaporte italiano na mão, pois o documento italiano me punha em igualdade de condições com os locais, em qualquer situação. Foi então que, de súbito, tive a ideia brilhante: trocar de passaporte. Guardei o italiano e tirei o brasileiro da bolsa, colocando-o bem à vista do funcionário estressado com cara de poucos amigos que vinha nos atender. Quando ele viu o passaporte, sua fisionomia se iluminou, abriu um largo sorriso e como numa mágica disse: "Ah, Brasiliani!!! RONALDO!!!Ronaldo gioca domani." Ronaldo joga amanhã!!! E o cara era fã do Ronaldo. As palavras vieram tão fáceis como o sorriso: "não temos vagas, mas acho que posso acomodar vocês". E adivinha, sem vagas, mas com Ronaldo, conseguimos quarto. Ronaldo era e é assim, capaz de abrir portas onde não há, à simples menção do seu nome, embaixador do futebol e da alegria. Ronaldo era pura magia...Rrrrrrrrrrronaldo:para sempre fenômeno!!!

30 de jan. de 2011

Escócia:Ilha de Skye( Parte III )-para sempre na memória



Próximo a Ponte de Skye
 
O dia já caminhava para seu final quando nos aproximamos da ponte que liga a ilha de Skye ao continente.O frio persistente agora não tinha mais a chuva para nos molhar e gelar até os ossos, mas o céu continuava carregado de nuvens densas. Atravessamos a ponte em Kyle Lochalsh e seguimos pela A87 em direção ao norte, meio que sem rumo certo.Só então me dei conta de como a paisagem havia mudado abruptamente. Deixamos para trás o verde dos pinheirais do continente para entrar  numa região agreste, cujo centro é dominado pelos montes Cuillin e um litoral recortado por lindas baías de águas límpidas, como veríamos depois.Alguns quilômetros de estrada ilha adentro e percebi que aqui era um mundo à parte, onde o tempo não significava nada. De gente nem sinal, somente uma estradinha sinuosa entre as montanhas arredondadas e muitas, muitas ovelhas. Nos campos, à solta, sem nenhum pastor visível, cruzam a estrada aos bandos, obrigando o carro a parar até que calmamente se dirigem ao outro pasto...Nenhum carro na mesma direção, nem na direção contrária... O que há?-pensamos- será que pegamos a estrada errada? Ai, ai, ai...isto tem cheiro de problema. Mas quem estava preocupado com isso, diante de uma natureza tão deslumbrante, com riachos de águas cristalinas que desciam em cascatas da montanha entre o verde amarelado do outono escocês?

Ovelhas, ovelhas e mais ovelhas...
 Fomos subindo sempre rumo Norte e finalmente as placas começaram a indicar a proximidade de uma cidade: Portree. O problema é que nós rodávamos e nada da tal vila...finalmente chegamos a um posto de combustível. Havia uma senhora abastecendo seu carro e resolvemos perguntar. Depois de uma breve disputa sobre quem iria pagar o mico, decidiram democraticamente que seria eu. Aproximei-me delicadamente da mulher, cumprimentei e perguntei se ela poderia nos informar onde estávamos, ao que ela abriu um grande e amigável sorriso e respondeu: "ao que me parece vocês estão perdidos..."Alguns risos e boas orientações depois, mais alguns quilômetros à frente, chegávamos finalmente a Portree, um típico vilarejo e porto de cerca de 2.000 habitantes. A noite começava a cair, a fome rondava nossos estômagos e tudo que eu queria era um banho quente e comida...Mas aí já é uma outra história...


Centro de Portree


A arte de viajar...

"A verdadeira arte de viajar...
A gente sempre deve sair à rua como quem foge de casa,como se estivessem abertos diante de nós todos os caminhos do mundo.Não importa que os compromissos, as obrigações, estejam ali...
Chegamos de muito longe, de alma aberta e o coração cantando!"
Mário Quintana


22 de dez. de 2010

Tia Ida

Havia uma rosa e uma margarida entre tantas outras flores.
A Rosa nao conheci, pois partiu antes de eu nascer, numa primavera distante...
A Margarida coloriu nosso jardim até ontem de manhã.
E na tarde ensolarada e cálida,
nuvens brancas num céu azul,
como margaridas num campo,
nós a levamos por entre as aléias serenas de um jardim antigo,
onde já plantamos tantas outras flores...

Tia Margarida partiu...
Se foi como viveu toda sua vida:
de forma simples, serena, discreta.
Sem alarde, sem chamar atenção,
cercada de alguns anjos sem asas que a protegiam.
Tia Margarida foi a tia que todo mundo queria ter,
todos os meninos e meninas da minha infância queriam uma flor como aquela...
Seu ventre não lhe concedeu filhos,
mas o seu coração generoso,
transbordando de um afeto sereno,
acolheu os sobrinhos, como se fossem seus.
Todos nós, primos e primas, éramos como abelhas no seu jardim
todos fomos um pouco seus filhos,
crianças que ela cultivou debaixo de sua parreira de uvas brancas e roxas,
num quintal encantado onde não havia espaço para tristezas ou dor.
À sombra daquela videira
nós brincamos,
brigamos,
cirandamos,
sorrimos,
choramos,
crescemos
e amadurecemos
como as uvas doces que chegavam em dezembro...
O tio, seu companheiro de toda uma vida,
Antônio de nascimento, Tonin, de carinho,
partiu muitos anos antes e deve tê-la aguardado no céu desde então...

Nós a levamos ontem, num passo lento, silencioso,
Num dolorido caminhar entre as árvores,
temerosos de que afinal a hora chegara...
Não mais haveria sua voz,
sua presença confortadora,
sua sabedoria,
seu café na cozinha simples,
a conversa nas tardes mornas,
as histórias de tempos já idos e longínqüos que só ela sabia.
Não mais haverá sua casa para nos receber,
o rosto emoldurado pela grande janela da cozinha,
seu macarrão de domingo,
seu sotaque italiano,
seu humor fino que desafiava a morte.

Não mais haverá.
Não mais Margarida.
Tia Ida...

Descansa agora entre as flores do céu, que ela merece,
trabalhou toda vida.
Tia Ida,
Tão triste a sua partida...
Tão órfãos nos sentimos sem a nossa Margarida...

4 de dez. de 2010

Escócia:Highlands com castelos(Parte 2)-Para sempre na memória

Saímos cedo de Inverness, a manhã gelada de Outubro convidava a ficar mais na cama, mas o coração ansiava por conhecer as Highlands, ver seus mistérios, sentir a história daquelas terras distantes. Pegamos o carro debaixo de uma garoa fininha e seguimos rumo a oeste animados com o dia que se abria a nossa frente. Pegamos a A 82 sentido sudoeste, pois nossa intenção era alcançar a ilha de Skye. No outono, as estradas escocesas são encantadoras, apesar da chuvinha insistente. Lagos cristalinos se sucedem, emoldurados de montanhas e extensos pinheirais. Mas a lendária criatura, o famoso Monstro de Loch Ness, infelizmente não deu as caras. Aliás, vale lembrar que por aqui, conforme publiquei no post anterior, a língua gaélica ainda tem muita força e "Loch" é exatamente isso que você deduziu, Lago. O Ness se estende no sentido norte-sul e vai margeando a A82. Apesar de muito profundo, é um pouco estreito. Pequenos vilarejos vão se sucedendo e observamos que o feno já estava enrolado nos campos, para alimentar o gado no inverno. Lagos, campos, montanhas, folhas douradas caindo ao vento... a Escócia se abria à nossa frente com a toda sua magia.


A primeira parada, of course, foi ao lado do Ness. Colocar a mão em sua água cristalina, caminhar nas suas margens, respirar o ar gelado da manhã...não há nada no mundo que pague esta experiência...seguimos em frente e paramos um pouco adiante para ver parte do Caledonian Channel, canal que interliga quatro lagos entre Inverness e Fort William. De lá seguimos viagem, sempre rumo a oeste,impressionados com os vários castelos à beira da estrada, muitos em ruínas, mas não podíamos deixar de visitar o Urquart Castle, às margens do Lago Ness, próximo à vila de Drumnadrochit. A vista é simplesmente espetacular, as ruínas do castelo datam do século sexto e você se sente como se estivesse em plena idade média, até o ar parece mudar...Tive a impressão de que um cavaleiro sairia a qualquer momento de entre as ruínas,elmo na cabeça, olhar perdido como quem vem de muito longe...
A velha Escócia é mesmo surpreendente...

( continua...)